21.10.08

lição política # 2

O dia em que ele chegou ao nosso pedaço, tudo parou. Ele era lindo, vinha de outra cidade, tinha outro sotaque e fazia bicicross, sendo o único capaz de saltar em um único lance o grande vão que criamos entre dois morros de terra.

Ele sorria muito, era muito educado e não fazia coisas estúpidas como os outros meninos. Era o tal e sendo o tal dilacerou o coração de todas as garotas. Nunca prometeu nada a nenhuma e por isso mereceu todo o desprezo.

Na festa na garagem, ele terminou com a vassoura porque ninguém iria dançar ou falar com ele. E assim, criamos a indiferença.

lição política 1

Tinha os meninos bonitos da minha praia, que surfavam, dançavam e tocavam violão em luais improvisados sobre a duna. Eles nos protegiam de todo o mal (os outros caras) quando íamos a festinhas inocentes escutar Paralamas e Guns.

Tinha os meninos bonitos da outra praia, que também surfavam, dançavam e tocavam violão e também tinham suas meninas para proteger de todo o mal.

Nós, as meninas, não nos importávamos muito com os meninos e suas façanhas incríveis, mas não admitíamos que as meninas da outra praia chegassem perto deles. E vice-versa.

Mas um dia aconteceu que uma menina da nossa praia se apaixonou por um menino da outra praia. E, para não deixá-la ir sozinha ao território inimigo, a acompanhávamos a sorveteria e até começamos a surfar mais para lá. Só que isso gerou uma sequência de agressões das meninas da outra praia. Como a gente acreditava muito no amor dos dois, decidimos levar bandeira branca e tentar um acordo.

As meninas da outra praia aceitaram, mas com uma condição: que elas também pudessem se apaixonar pelos nossos meninos. Eles, claro, gostaram da idéia.

Trato feito, um território de trânsito livre foi criado entre duas praias.

Até o dia em que a menina da nossa praia foi traída pelo menino da outra praia, com uma menina que não era de praia nenhuma.

A partir desse dia, não aceitamos mais que meninas e meninos de outra praia entrassem na nossa praia. E criamos a intolerância.

20.10.08

dá uma bala, tia?

nada como um dia e depois outro dia. passei 72h expiando minha culpa feito uma carola porque cheguei atrasadérrima a uma reunião com cara de quem foi atropelada por três garrafas de rum e hoje descobri que ninguém deu a menor pelota. tipo, nem foi um problema, ninguém achou nada. mas sem abrir precedente, porque daí não é legal.


o sujeito pode ter dinheiro, poder, sexo todo dia e ainda assim ser um infeliz que vê tudo pelo lado negativo. nada estará bom, nunca. essa gente me irrita. pig souls, pig souls.

e ontem eu tava ali passando pela padaria e ouvi um cara tosco, aos berros, no orelhão. isso mesmo minha gente, no orelhão. falando barbaridades para (eu imagino) sua mulher. ele gritava: porque você foi no bar da foda, a mulherada vai lá para se arrumar e dar, sem essa de que você tava com suas amigas. e rosnava.
na boa, eu não sou obrigada a ouvir um negócio desses indo comprar pão, né? arre égua.

19.10.08

pelo menos eu vou tentar

Muitas vezes tenho dificuldade de aceitar a cultura do país no qual nasci. Entendo as razões históricas para determinados modus operandi coletivos, não joguei fora Raízes do Brasil, Casa Grande e Senzala e tantos outros que colocaram em perspectiva um século de escravidão, colonialismo etc. Mas o ponto é que me identifico muita mais com os yankees do que com os brasileiros no modo de agir e pensar.

Prefiro o “i´ll do my best” do que o “a gente dá um jeito”. Essa falta de comprometimento generalizada, esse conformismo com as coisas feitas de qualquer jeito me dá ganas. A corrupção, a falta de respeito pelo indivíduo e, sobretudo, pelo coletivo me deixa muito indignada. Dias desses até o porteiro quis me corromper, pedindo uma cerveja por um favor que ele decidiu fazer e que eu não pedi. Ignorei solenemente, não me sinto no dever de retribuir nenhum favor.

E é por isso que, quando vejo pessoas agindo de modo responsável, fazendo o seu melhor, alimento um pouco de esperança. O cara da NET acabou de sair aqui de casa, veio configurar o computador emprestado que estou usando para acessar a Internet.

Se a atendente da NET tivesse um mínimo de informação e boa-vontade ele não precisava ter vindo aqui em pleno domingo frio e chuvoso, porque eu sabia que era uma coisa muito simples o erro de conexão que estava dando. Mas ela não foi sensata e o moço veio. Não só resolveu o problema como identificou outro problema, resultado do serviço porco do seu colega que fez na primeira instalação. Claro que eu já tinha reclamado na NET, reclamado do outro técnico, mas ninguém resolveu nada e eu andava bem sem tempo para ir atrás de uma solução. Mas daí o cara me deu uma solução e as instruções para lidar com os coleguinhas da NET que virão aqui e que, como o malaco que esteve aqui na primeira vez, não vão querer localizar o cabeamento desse apartamento antigo.

Achei incrível. O cara simplesmente estava comprometido, apesar do domingo de chuva e frio. Fez o seu trabalho da melhor maneira possível, que é como eu acho que as pessoas deviam agir sempre. Fazer o seu melhor, ou ao menos tentar.

E ele não me pediu um café ou uma cerveja por uma visita que não é cobrada.

Agora, tenho certeza de que esse cara sofre, assim como eu, quando vê as outras pessoas que trabalham com ele fazendo corpo mole e dando um jeitinho.

someday thoughts

"We´ll spend some time forever. We´ll never feel like anymore."

lá no vegetariano, vão assim casais que acabaram de chegar da corrida em um dia chuvoso, com seus moletons; homens de meia idade cheios de energia que acordam às 5h para ir a academia antes do trabalho; emos de coturno com cara triste e alma vegan; pais de família entediados e mães com colares de semente; solteiros com preguiça de cozinhar e de ressaca.

"Dont get me wrong".

2 dias em paris. um casal em crise faz uma viagem romântica por veneza, não chega a lugar nenhum e decide ficar 2 dias na cidade luz para ver se se acerta. mas daí é tudo muito clichê. os minutos finais são uma reflexão sobre como é difícil estar em uma relação e conhecer o outro e tals. é difícil mesmo. se fosse fácil, os poetas teriam ocupado seu tempo com outro assunto.
mas o mais interessante é a visão esterotipada dos franceses como um povo super sexual, tipo um lugar onde todo mundo come todo mundo.
fiquei tempo suficiente em paris para decorar o mapa do metrô e conseguir atravessar a cidade de madrugada sem me perder. é uma cidade que inspira e conspira, a língua ajuda muito a deixar tudo sexy, mas eles, os franceses, mais reclamam e fazem greve do que amor.


"Não decida nem pense".

Estava tocando Chico, não estava não? E tinha também uns textos e um poema. E queria lembrar o nome da banda japonesa (lembrei, era Pizzicato Five). E descobri que a letra da música não é "your tenderness", até porque isso não fazia o menor sentido. Era "your tender lips" e isso sim, faz muito mais sentido.



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Now playing: Mika - Relax, Take It Easy
via FoxyTunes






depois de amanhã

I´m in love. I mean love.

O dia seguinte ao dia seguinte é ótimo. Porque se você foi ao inferno e ficou trocando figurinhas com o diabo da sua cabeça, quando isso acaba toda sensação é boa. A tendência ao equilíbrio, enfim. E a urgência de escrever, de elaborar o sentido do que foi desnecessário. Mas não era para escrever. O computador não funcionou uma, duas, várias vezes. Não que os cadernos e blocos não possam ser usados, mas exceto quando estou viajando eu prefiro direto a tela fria e branca à minha letra sem pauta. Uma redação de jornal me ensinou a pensar assim.
A menina da assistência demorou 45 minutos para fazer um cadastro e abrir uma OS e não conseguiu porque o computador dela estava dando pau.
E daí é engraçado como o mundo inteiro parece estar na sua. No restaurante, o moço também estava com problemas com seu computador e até desejamos boa sorte para ele ao sair. Para mim (e para eles), ontem não era dia de computador.
Melhor assim, o difícil é aplacar a minha ansiedade de escrever qualquer coisa. Mas era dia de Louie, Louie, de todas do Skank no último volume, de dar tchau pros vizinhos novos e dançar na sala. De bater papo com os meus iguais, aqueles que me julgam só um pouquinho, que me perguntam quando acabará afinal essa adolescência e que me contam histórias sempre mais cabeludas que as minhas, o que dá um tremendo conforto psicológico.
Até quando vamos seguir assim, não sei, mas temos o tempo a nosso favor quando fazemos cagadas e contra a gente quando chega o horário de verão. De repente tudo fica muito tarde.

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