29.7.06

Números

22h na frente do computador = 15 cigarros, muitos jobs finalizados, planilhas desafiantes, 1/2 litro de café meia-boca, Intranet, extranet e Internet, o aprendizado do f ao 0 da programação em html, 3 tons de verde e nenhum insight sobre como incluir uma imagem no código de uma página.

5 h = muitas coisas de menina, R$ 65 gastos (ou investidos), 1 programa sobre babysitting crianças péssimas (as crianças dos meus amigos não são assim!), 1 programa de decoração, 1/2 novela, 1 frango dessosado, 10 castanhas de cajú e meia garrafa de shoyo.

2 h= 7 ligações recebidas, 4 ligações feitas, 1/2 hora embaixo do chuveiro, 23 músicas escutadas, 4 baladas prospect.

US$ 1,600 = passagem de ida e volta para o paraíso. Melhor gastar só US$ 800 e ficar por lá, certo?

5 min = para escrever essa besteira.

PS - depois escreverei sobre o sucesso ou não das baladas prospect.

26.7.06

Pequenezas

Desmanchei mais uma cabana. Sorriso. Uma amizade que é fortaleza. Um toque. Torcida. Tristeza. Meu time perdeu.

Deserto. Dentro de mim. Está perto.

A desatenção é um perigo. Ouça o que digo.

A menina e a carta

Eu sou a menina que espera a carta. Ela não veio, mas ainda assim a espero, ansiosamente. A menina que perdeu as conexões do seu mundo, nos seus caminhos, e que, hoje, só espera a carta. A menina que tem na mão uma estrela, à espreita para se lançar em uma nova viagem. Que conheceu tanta gente que já nem lembra mais. Que queria esquecer muito mais e lembrar outro tanto. À espera da carta olhou com ansiedade a noite clara da metrópole, quis que fosse escura como a noite de Mostardas. Ou do lugar da carta. E lá vem o mensageiro com a nova surpresa. E não foi a carta.

Amor, é impossível

O exercício do amor, esse sublime e por vezes farto, dolorido. É um entregar-se sem obrigação, por puro deleite, pelo prazer no outro e depois em si. Ainda há pouco, o amor não cabia em burocracias, seu lugar poesia. Não raciocinava matematicamente, o amor demente, entredentes. O amor está fora de moda. Não convém em tempos capitalistas, de perdas e ganhos calculados. Porque a ele não é permitido o cálculo. O amor, de verdade, é o domínio da libertação, pontas de pés descalços tocando a água. Brisa suave ou furacão, o início e dedicar-se diário. O amor exige acima de todos os cérebros. Não sabe o que é o amor quem não se abandona ao seu doce sabor. Não é compromisso, é desejo. Por isso o amor está fora de moda. Não há lugar nas agendas ocupadas para tamanho delírio irresponsável, que tanta responsabilidade exige. Sair de si não é mais possível. Por isso, além de fora de moda, o amor tornou-se impossível.

25.7.06

Originalidade não existe

A verdade é que ninguém é original, apesar do mundo todo querer ser. Nesses tempos do privado que se torna público, do individualismo fragmentado e exarcebado, a intenção da média dos seres viventes e raciocinantes desse mundo – daqueles, claro, que já estão na fase seguinte a de lutar pela própria sobreviência mínima – é fazer algo único, diferente, superior. Isso não quer dizer que as pessoas queiram fazer tudo isso sozinhas; pode ser de forma coletiva, em grupos que geram identidade, a questão é fazer algo que possa diferenciar-los das massas, que produza essa noção de exclusividade capaz de distinguir o mim do outro. E essa busca incessante do único, do especial, do diferente e acima da média é alimentada diariamente pela mídia e pela indústria de consumo, os gatilhos do desejo infinito. Talvez por isso, ou por um aspecto fisiólogico do ser humano, o mundo todo inserido nessa sociedade de consumo pensa e comporta-se de maneira muito semelhante, como manadas em época de caça. O inconsciente coletivo, esses padrões mentais similares, faz surgir aqui e ali manifestações que são variações sobre o mesmo tema, repetições infindáveis das mesmas buscas. E o que é categorizado como diferente, inovador ou nunca antes feito na realidade é só aquilo que caiu nas graças da divulgação, que obteve publicidade.
Por este princípio, não existem gênios ou grandes criadores, mas gente que conseguiu e que não conseguiu holofote para suas ações. Quem garante que não existiu um outro sujeito que elaborou a mesma teoria da relatividade de Einstein, mas não estava no lugar ou momento certo para obter reconhecimento? No plano da cultura de massas e da banalidade cotidiana, isso é ainda mais inexorável. Deve ter gente produzindo as mesmas coisas que os sujeitos considerados grandes músicos, escritores, desenhistas, mas sem mídia, sem destaque. Quando têm a oportunidade, esses sujeitos também gostam de dizer que fizeram ou pensaram isso antes. Dane-se, se não souberam divulgar é como se não tivessem jamais existido. Assim propagam-se frustrações e questionamentos, devido à ausência da perspectiva da originalidade.