10.5.07

Eu não aguento mais tanta modernidade. Tanta gente cool, cult e descolada. Tanta vaidade e pretensão. Quero férias de gente que acha que é uma camiseta e vive à base de slogan publicitário.

9.5.07

a namorada da casa nova

Estou acompanhando o movimento. Ontem ele levou a primeira menina para sua casa nova, com decoração moderna, adquirida nas melhores lojas de design. Antes dessa, ela nunca levou nenhuma, mas é porque ele morava com a mãe no km 215 da rodovia. Então, eles encheram a cara em um bar suspeito e ele tomou coragem e chamou a menina. Foi tudo muito bem, só encantamento, até ele perceber que a menina ia dormir por lá. E nisso ele não tinha pensado! Como dispensar a menina? Não dá nem para dizer "a minha mãe está chegando". Logo ele, que não queria namorar ninguém, começou a namorar a primeira menina que dormiu na sua casa nova.
Já a minha amiga, que é mais esperta, levou o 45º menino para dormir na sua casa que não é nova. Como ela não morava com mãe antes disso, depois do divertimento, falou logo: "se quiser dormir aí tudo bem, mas amanhã eu acordo às 5h." Pergunta se o menino dormiu na casa dela.

minha gente

Pessoas que (ainda bem) me cercam:
J, xamã, codinome Dalai, que vai “ver um filme no qual o M. botou o som” e depois me conta que era a pré-estréia de baixio das bestas. O pior é que a vaca não sabia, ela está em todos os eventos disputados de sp e nunca sabe.
A, astróloga, umbandista, especialista em artes plásticas, namorada do Volverine. Que me diz: “é Plutão na casa 1. Nasceu para trabalhar em pronto-socorro, redação diária... essa é sua freqüência. Mas, para quem já entrou na faca tantas vezes, você vai tirar de letra”.
G, moço bonito, que vive no Planalto, em crise. Definiu-me como “auto-sustentável” e diz “eu te amo” sem medo de ser feliz.
J, companheiro de piadas infames, tatuagem de estivador. “Eu sabia que você ia surtar”. E ri.

J, apaixonada por bandejão: "emenda a licença nas férias. Se quiser, pode ficar lá em casa que eu troco a sua fralda."
G, torturadora de beira de piscina: “Faz 3 braço borboleta e volta costas duplo. E abre o braço!”
F, meu médico, gordinho e sincero. “Agora você não vai dar faniquito porque já sabe como é. Mas, mesmo assim, devo esclarecer que é grave e raro”.

R, ex-namorado e caroneiro. "Tudo bem, depois da safena sempre tem a mamária".

Melhor ter uma doença crônica do que uma doença romance. Imagina se é um romance que acaba mal?

7.5.07

coragem para largar o espelho

Só um espirro rápido, é o que vai ser porque estou com sono e quero dormir com mamãe. Na fase lua minguando tenho essa ânsia de falar mil assuntos, fico “cabeça gorda”. Mas não há fôlego para tanto.
Um comentário apenas, que ouvi meio desatenta. È aquele tipo de afirmação que você só se dá conta da gravidade depois. Curioso que veio parar em minhas mãos um poema de um cara que eu gosto, o Carpinejar. As coincidências. O menino tava ali, beira da mesa, escova de dente na mão, reclamando que não consegue levar nenhuma relação a sério. Ele se leva a sério e acredita na façanha que cria, de que nenhuma mulher é boa o bastante. O seu prazer se esgota na conquista, que é um ato egoísta até, porque é só o eu, o outro não existe. Eu e minhas armas, minhas certezas. Quando chega o momento seguinte, de baixar as armas e se mostrar no seu tédio (todos temos o nosso), ele recua.
Procura as “mulheres boas o bastante” na Internet, no orkut, não sei mais onde. Ele se guia pela aparência, pelo que dizem ser. Não chega a saber quem são. Porque pára na conquista.
Eu não ia me declarar, mas se declarar é importante mais para gente que pelo outro, é a precisão do momento. Então eu disse: deixa vir o momento seguinte. Saia da superfície. O momento seguinte é deveras saboroso. As pessoas reais e seus tédios, sem armas, reconhecendo a diferença. Mas ele ainda está na fase de namorar o espelho. Daí eu fui obrigada a concluir:

“Amar é - curiosamente - desapaixonar-se por aquilo que somos”.
A frase é do poeta citado.

E, essa música do Cazuza que me pegou uma madrugada dessas, fazia tempo que não escutava e fez tanto sentido. Adotei como hino temporário.

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm
Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia
Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça
Vamos pedir piedade
Pois há um incêncio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade

6.5.07

racionais, coletivo e aniquilação



A lua já não estava tão cheia, mas ainda tinha um certo ar de “Gotham City”, uma bola amarela por trás de nuvens negras. E veio iluminar a festança na cidade, que jorrou arte por todos os poros nesse fim de semana. Quem não se enclausurou em espaços fechados e pagos teve a chance de conferir de tudo um pouco, especialmente no centro da cidade, que estava lindo. Era gente indo e vindo por todos os pontos históricos, metrôs cheios até madrugada, com tribos de todos os cantos convivendo, até onde possível, em harmonia.
Eu adoro a ocupação do espaço público, o coletivo, o uso da cidade como forma de expressão. Sou do tipo que topa qualquer parada que tenha aglomeração humana e seja grátis, ainda que só para observar o movimento. Foram muitos os destaques da Virada Cultural, o carnaval cultural dessa cidade inviável. Nos lugares onde passei, surpresa no Pátio do Colégio, que era outra cidade ao som do dub. Muita paz, muita diversão. Em frente a Bovespa, a cena eletrônica foi democrática e surpreendeu, assim como o Ed Motta, com sua excelente música e alto astral na São João.
Mas o êxtase mesmo foi ver a Praça da Sé lotada, no maior clima de final de campeonato, com manos e minas de várias tribos esperando para ver o Racionais.
É claro que saiu confusão e eu estava bem ao lado do ponto de estopim, uma banca de revistas cujo teto foi invadido por muitos garotos com testosterona a mil. A polícia reagiu, teve correria, mas considerando que já passava das 4h30 e havia milhares de pessoas aglomeradas, o resultado era previsível. Como me disse um mano com um boné escrito Lado Leste, quando um amigo meu quase iniciou uma discussão com um cidadão bêbado: “aí, vamos ficar calmos, porque aqui só tem louco e é melhor evitar, firmeza?”. É isso aí, na babilônia, teve espaço para todo mundo.

Encontrei muitos amigos no centro, mas muita gente que eu convidei não quis ir por medo da violência (esse foi o argumento mais usado). A violência é sempre uma justificativa legítima, mesmo que seja para disfarçar o preconceito de estar em um lugar onde o acesso é irrestrito. Em um evento como esse, não é possível excluir o indesejado, seja ele o pobre, o feio ou até os playboys.
E o mundo caminha cada vez mais para a direita, para a aniquilação daquilo que não queremos ver e conviver, em geral a miséria. As pessoas podem se isolar em clubes caros, condomínios e carros blindados e perder a sensibilidade em relação ao outro. Algumas pessoas podem mesmo escolher não conviver com o diferente. É o pensamento individualista versus o coletivo.
Virar as costas para a cidade, para a exclusão é um caminho menos dolorido, mas que também endurece os sentimentos.
Curiosamente, assisti a um filme hoje que me trouxe lembranças de ontem: Os 12 trabalhos. É um filme poético, sensível e triste, porque é a verdade da nossa cidade. É um filme sobre pessoas comuns, a quem sonhar não é mais permitido. É a história de muitos meninos e meninas que estavam lá na Sé, esperando para ver o Mano Brown. E de quem eu escutei coisas como “para quê vou ficar perdendo tempo no meio de tanto preto e pobre?”. Realmente, não vale perder esse tempo. Melhor coisa é ir para o Skol Beats, pagar os R$ 100 ou ser descolado e “arrumar um convite”. E continuar na sua bolha. Vendo as mesmas coisas, falando com as mesmas pessoas, escutando os mesmos sons. Como dizia o Cazuza: “vamos pedir piedade para essa gente”.