26.7.07

Eu acredito em anjos


Foi no convés de um navio, numa viagem de três dias subindo o Amazonas, que conheci um anjo do norte que falava pouco a minha língua, porque vinha de uma ilha pequena do Oriente. Um anjo que me ensinou o único origami que aprendi até hoje para baixar a ansiedade que às vezes irrompe e interrompe pensamentos.

Foi numa viagem de “treinamento” que conheci melhor outro anjo, com quem dividi um quarto e que com quem hoje divido almoços e histórias únicas.

Foi numa rua do trabalho que conheci o terceiro anjo, entre tragadas e reclamações, que um dia me deu carona para casa e outro dia eu dei carona para uma festa.

Todos os três apareceram no meio de uma tempestade recente e me fizeram ter certeza da frase do meu irmão-anjo: “A gente recebe da vida o que a gente dá a ela”.

Obrigada, vida, pelo reconhecimento e pelos anjos.

24.7.07

Tudo especial

A sensação de agora é impotência. Difícil sensação essa, que exige o esperar pelo download, um milagre para que meu celular pare de atrasar o próprio relógio (veja bem, até o meu celular tem o horário atrasado), uma conexão de meus dois neurônios para entender um atendimento virtual que culmina na seguinte pérola: “sinto que você está tendo dificuldades”. Até a voz metálica me insulta.

Caminhei várias quadras na chuva sem pensar em absolutamente nada até encontrar a rua que me levou ao canto que tanto me agrada e às vezes dá medo também. A outra sensação de agora é uma mistura de ansiedade imensa com medo. Medo de perder esse amor que começou lento e agora é arrebatador, sinto que não posso mais me desvencilhar de suas mãos poéticas. É a primeira vez que sinto medo por, ao cair na estrada, estar a perder um amor. As coisas estão mudando ou é apenas reflexo da idade combinada com o baixo-astral que anda pairando no ar onde respiram os sobreviventes de tantas desgraças?

Mas em meio aos papéis velhos e mofos, novamente a benção da vida: as pessoas especiais se encontram sempre. Na minha vida. Tão especiais como Barbaras, minha irmã preta cujo aniversário de 30 anos esqueci. Seria um crime sem perdão para os admiradores do networking, mas não para os cultivadores da amizade. Essa ligação, dia ganho mesmo após a manhã cara de tão confusa. E, quanto aos idiotas que pensam fazer parte desse espetáculo, eles sempre desistem. Não têm calibre para essa poesia.

1 mês em resumo

Primeiro, dores tamanhas. A constatação da solidão e a ampliação do espaço. Emoções seqüenciadas. Depois, falta, pensamentos, atos e horários confusos. Um pouco depois, cansaço. Bola na trave. Duas bolas na trave. Em seguida, apanho por telefone de alguém que não conheço bem. Meu único desejo é não ficar como ela, a Florisbela do interior que chama o namorado de “meu homem”e não controla seus sentimentos baixos. Depois ainda, spams. De conhecidos. Auto-propaganda. Depois e depois, uma mensagem do urubu, aquele cuja única razão de existir é falar de si e usar as idéias dos outros para justificar seu modo de pensar, porque o puto escreve mal e não deve ter idéias próprias. Vídeos do youtube, ranking de sites e o escambau. No último tempo, vinho com lasanha, cerveja com pizza e histórias para boi dormir. Por fim, pari. De verdade. Um monte de coisas fragmentadas. Mais depois e ainda, uma baita saudade.

Do que foi e do que ainda vai ser.