6.9.08

pertencer, sujeito oculto

Não era tanto por chegar, nem ao menos pelas despedidas, tristes, breves ou muito pessoais de cada lugar. Era mais pela espera, o porvir, o estar a caminho de algum lugar que a distanciava de uma existência anterior e a colocava diante de infinitas possibilidades.

Diriam talvez que era uma fuga inventada em aventuras, uma saída dissimulada para não encarar aquilo a que chamavam responsabilidade. Não saberia dizer exatamente o que era e tomou tempo demasiado longo decidir. Mas um tempo necessário e assim que amadureceu, foi quase em instantes que fechou as malas, comprou o tíquete e fez rápida despedida dos mais queridos.

Ás vezes, no meio do caminho, um dia de chuva e noites frias entre desconhecidos, a mala cheia de roupas sujas, o dinheiro escasseando, às vezes sentia falta de casa, de rotina, de rostos e ruas dóceis. Com o passar dos dias, das chegadas e saídas, a expectativa sucumbia ao cansaço e depois, depois já nem sabia mais o que era casa e foi então transformando cada destino em um pouco de casa, até que toda a geografia do mundo podia ser seu lar.

Um dia, em uma das chegadas, não quis mais despedidas. Sabia ser aquele o destino final de toda a jornada. Conhecia de muito antes todos os códigos, os símbolos, as crenças.

Tinha pertencimento, então.

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mariposas

Ya he manchado mi camisa con el vino. Tinto. La borrachera de toda vuelta, es porque no me acostumbro a volver. Nunca. Que es más fácil seguir en frente, olvidando a todo instante lo que pasó, do que parar y tener de acordarme a todo instante lo que pasa.

Ya lo siento, las mariposas en mi estomago, pidiendo para volar, porque aun ellas no se acostumbran con esas calles de siempre, con las peleas de siempre, con los poderes desde siempre. Hasta ellas no quieren mirarse a dentro y percibir el solitario camino de aquellos que no se encuadran en nada, en nadie. Habría poesía entonces? Cuando la perdimos? No fue la primera vez, no va a ser la última. No sé si lo siento. A veces, quizas.

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31.8.08

o barraco da vizinha

De uns tempos para cá, eles andavam quietos. Nada de portas batendo, gritarias e choros. Nenhuma menção a suicídio, nenhuma declaração voraz, nada de acusações contra alguém cujo nome nunca entendi. Hoje eles voltaram, com suas angústias reprimidas e suas brigas intermináveis. O menino que berra bate o pé com força e treme o meu chão. Ele tem tanta raiva e a moça o chama de neurótico sem parar. Daqui a pouco um começa a chorar, mas nunca sei bem quem é. O som abafado dessa cidade está tornando difícil acompanhar a novelinha da vizinhança no cortiço de nome indígena que é o meu prédio.

E por falar em vizinhança, o casal gay que eu tanto gostava, do prédio aqui ao lado, se mudou. Esse prédio é o inferno dos meus dias, fica colado assim ao meu e já gerou constrangimentos, porque esqueço que agora tenho platéia.

Mas o casal era fofo, tinha uma cozinha ótima, fazia várias festinhas. Devem ter ficado de saco cheio da falta de privacidade, assim como eu. E puderam mudar-se, coisa que ainda não posso. Vamos ver quem serão os próximos no panóptico.

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