6.9.08

pertencer, sujeito oculto

Não era tanto por chegar, nem ao menos pelas despedidas, tristes, breves ou muito pessoais de cada lugar. Era mais pela espera, o porvir, o estar a caminho de algum lugar que a distanciava de uma existência anterior e a colocava diante de infinitas possibilidades.

Diriam talvez que era uma fuga inventada em aventuras, uma saída dissimulada para não encarar aquilo a que chamavam responsabilidade. Não saberia dizer exatamente o que era e tomou tempo demasiado longo decidir. Mas um tempo necessário e assim que amadureceu, foi quase em instantes que fechou as malas, comprou o tíquete e fez rápida despedida dos mais queridos.

Ás vezes, no meio do caminho, um dia de chuva e noites frias entre desconhecidos, a mala cheia de roupas sujas, o dinheiro escasseando, às vezes sentia falta de casa, de rotina, de rostos e ruas dóceis. Com o passar dos dias, das chegadas e saídas, a expectativa sucumbia ao cansaço e depois, depois já nem sabia mais o que era casa e foi então transformando cada destino em um pouco de casa, até que toda a geografia do mundo podia ser seu lar.

Um dia, em uma das chegadas, não quis mais despedidas. Sabia ser aquele o destino final de toda a jornada. Conhecia de muito antes todos os códigos, os símbolos, as crenças.

Tinha pertencimento, então.

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