o barraco da vizinha
De uns tempos para cá, eles andavam quietos. Nada de portas batendo, gritarias e choros. Nenhuma menção a suicídio, nenhuma declaração voraz, nada de acusações contra alguém cujo nome nunca entendi. Hoje eles voltaram, com suas angústias reprimidas e suas brigas intermináveis. O menino que berra bate o pé com força e treme o meu chão. Ele tem tanta raiva e a moça o chama de neurótico sem parar. Daqui a pouco um começa a chorar, mas nunca sei bem quem é. O som abafado dessa cidade está tornando difícil acompanhar a novelinha da vizinhança no cortiço de nome indígena que é o meu prédio.
E por falar em vizinhança, o casal gay que eu tanto gostava, do prédio aqui ao lado, se mudou. Esse prédio é o inferno dos meus dias, fica colado assim ao meu e já gerou constrangimentos, porque esqueço que agora tenho platéia.
Etiquetas: cotidiano selvagens
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