7.5.07

coragem para largar o espelho

Só um espirro rápido, é o que vai ser porque estou com sono e quero dormir com mamãe. Na fase lua minguando tenho essa ânsia de falar mil assuntos, fico “cabeça gorda”. Mas não há fôlego para tanto.
Um comentário apenas, que ouvi meio desatenta. È aquele tipo de afirmação que você só se dá conta da gravidade depois. Curioso que veio parar em minhas mãos um poema de um cara que eu gosto, o Carpinejar. As coincidências. O menino tava ali, beira da mesa, escova de dente na mão, reclamando que não consegue levar nenhuma relação a sério. Ele se leva a sério e acredita na façanha que cria, de que nenhuma mulher é boa o bastante. O seu prazer se esgota na conquista, que é um ato egoísta até, porque é só o eu, o outro não existe. Eu e minhas armas, minhas certezas. Quando chega o momento seguinte, de baixar as armas e se mostrar no seu tédio (todos temos o nosso), ele recua.
Procura as “mulheres boas o bastante” na Internet, no orkut, não sei mais onde. Ele se guia pela aparência, pelo que dizem ser. Não chega a saber quem são. Porque pára na conquista.
Eu não ia me declarar, mas se declarar é importante mais para gente que pelo outro, é a precisão do momento. Então eu disse: deixa vir o momento seguinte. Saia da superfície. O momento seguinte é deveras saboroso. As pessoas reais e seus tédios, sem armas, reconhecendo a diferença. Mas ele ainda está na fase de namorar o espelho. Daí eu fui obrigada a concluir:

“Amar é - curiosamente - desapaixonar-se por aquilo que somos”.
A frase é do poeta citado.

E, essa música do Cazuza que me pegou uma madrugada dessas, fazia tempo que não escutava e fez tanto sentido. Adotei como hino temporário.

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm
Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia
Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça
Vamos pedir piedade
Pois há um incêncio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade