25.7.06

Originalidade não existe

A verdade é que ninguém é original, apesar do mundo todo querer ser. Nesses tempos do privado que se torna público, do individualismo fragmentado e exarcebado, a intenção da média dos seres viventes e raciocinantes desse mundo – daqueles, claro, que já estão na fase seguinte a de lutar pela própria sobreviência mínima – é fazer algo único, diferente, superior. Isso não quer dizer que as pessoas queiram fazer tudo isso sozinhas; pode ser de forma coletiva, em grupos que geram identidade, a questão é fazer algo que possa diferenciar-los das massas, que produza essa noção de exclusividade capaz de distinguir o mim do outro. E essa busca incessante do único, do especial, do diferente e acima da média é alimentada diariamente pela mídia e pela indústria de consumo, os gatilhos do desejo infinito. Talvez por isso, ou por um aspecto fisiólogico do ser humano, o mundo todo inserido nessa sociedade de consumo pensa e comporta-se de maneira muito semelhante, como manadas em época de caça. O inconsciente coletivo, esses padrões mentais similares, faz surgir aqui e ali manifestações que são variações sobre o mesmo tema, repetições infindáveis das mesmas buscas. E o que é categorizado como diferente, inovador ou nunca antes feito na realidade é só aquilo que caiu nas graças da divulgação, que obteve publicidade.
Por este princípio, não existem gênios ou grandes criadores, mas gente que conseguiu e que não conseguiu holofote para suas ações. Quem garante que não existiu um outro sujeito que elaborou a mesma teoria da relatividade de Einstein, mas não estava no lugar ou momento certo para obter reconhecimento? No plano da cultura de massas e da banalidade cotidiana, isso é ainda mais inexorável. Deve ter gente produzindo as mesmas coisas que os sujeitos considerados grandes músicos, escritores, desenhistas, mas sem mídia, sem destaque. Quando têm a oportunidade, esses sujeitos também gostam de dizer que fizeram ou pensaram isso antes. Dane-se, se não souberam divulgar é como se não tivessem jamais existido. Assim propagam-se frustrações e questionamentos, devido à ausência da perspectiva da originalidade.