17.9.06

As grávidas são sagradas no Marrocos? Relato de um jantar a dois.

Um casal de amigos teve uma semana difícil no trabalho, uma daquelas sextas-feiras em que o asfalto assobia de tanto calor, reuniões tensas, dor de cabeça, trânsito, enfim, as mazelas da vida moderna no terceiro mundo, quando se tem a sorte de ter um emprego.
Optaram por ficar em casa na sexta, assistindo a TV, atividade que até passaram a achar prazerosa depois de um dia infernal. No sábado, cada um foi resolver as suas pendências – hoje em dia, casais não passam mais o sábado juntos, precisam resolver os problemas de pessoa física, porque durante a semana são engolidos pela pessoa jurídica – e optaram por um jantar romântico, em um restaurante marroquino, para desanuviar das dores da semana e voltar a conversar como gente civilizada, sobre coisas civilizadas. Abaixo, o fantástico jantar:

Cena 1 – frio em São Paulo, trânsito na noite. Eles param em frente a uma garagem, próxima ao restaurante, pois o suposto vallet do restaurante indica que aquele é o melhor local.
Cena 2 – o vallet informa que são R$ 10. Assim, sem ticket nem nada, mas com seguro (no caso, a presença dele era o seguro).
Cena 3 – adentram o restaurante por suas portas em estilo palácio marroquino. O local está lotado. Escolhem uma mesa no canto, romântica. Pedem um suco de abacaxi e uma cerveja.
Cena 4 – nem o suco nem a cerveja chegaram, passados 15 minutos. Uma grávida e o suposto pai da criança entram no recinto.
Cena 5 – eles fazem o pedido e conversam amenidades, isso quando conseguem se comunicar, porque a trilha sonora de fundo é uma música árabe bem alta, embalada pela apresentação de dança de ventre de uma moça rechonchuda.
Cena 6 – meia hora se passou. Nada de suco nem cerveja. Muitos cigarros fumados e o garçom, marroquino e confuso, vem a mesa esclarecer que o pedido feito por minha amiga acabou. Como assim? Tem, mas acabou? O garçom explica que a moça grávida pediu a mesma coisa que ela e, sabe como é, estando grávida, ele não poderia negar o prato a ela...
Cena 7 – o casal discute se pede outro prato ou vai embora. Eles estão famintos, a música está alta, a confusão permanece e nada de suco ou cerveja.
Cena 8 – 1 hora se passa. Chegam o suco e a cerveja. O garçom informa que o prato solicitado por meu amigo sai em 5 minutos. Eles aguardam.
Cena 9 – a grávida e seu par já estão na sobremesa.
Cena 10 – passada 1 hora e meia, meus amigos desistem e saem do restaurante, depois de uma enorme dificuldade para pagar o suco e a cerveja porque o moço do restaurante passava o cartão com a tarja ao contrário.
Cena 11- irritados e famintos, eles saem em meio à chuva e frio de SP atrás de uma pizza.

Moral da história: no Marrocos, mulheres grávidas devem ser sagradas (se alguém tiver mais informações sobre isso, por favor me avise); sempre devemos seguir nossa intuição (meu amigo queria pedir uma pizza e ver um DVD em casa); se uma mulher grávida chegar antes de você em um restaurante que tem o número de pratos limitados, torça para que ela não peça a mesma coisa; quando se está estressado, o melhor é ficar em casa, quieto.

PS – se uma mulher grávida chegar a um restaurante e não tiver o que ela deseja comer, há risco da criança nascer com cara de cuscuz marroquino, por exemplo?


1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Na Argélia e no Marrocos, o corte da primeira peça do enxoval era celebrado no último trimestre da gravidez. Os parentes colocavam tecidos sobre uma bandeja de cobre coberta com um véu de seda. A pessoa escolhida para fazer o primeiro talho deveria ser abençoada com um lar feliz, filhos e pais ainda vivos. No Marrocos, era a parteira que cortava o tecido em faixas, durante cerimônia bem festiva, na presença de amigas e parentes que confraternizavam em meio a chás e doces, desejando boa sorte à futura mãe. Tantas eram as celebrações que, por volta de 1904, o rabino de Sefrou, pequena cidade marroquina perto de Fez, manifestou-se contra o grau de ostentação que tinham assumido tais cerimônias.

Quando a mulher passava por um período de esterilidade, era costume fazer uma peregrinação à tumba de um rabino famoso, invocando a sua bênção e interferência. E, quando a concepção finalmente acontecia, a grávida retornava ao local para orar, seguindo-se uma cerimônia com doces e licores de arak. Na ocasião, a gestante e sua família doavam tzedacá aos mais necessitados e ajudavam os estudantes das ieshivot.

21/9/06, 1:20 p.m.  

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