4.1.08

FERIADIM

Depois da bateria do carro arriar na saída do trabalho.

Ela só queria chegar à praia, que estava ali pertinho da casa que alugara com mais 10 pessoas. Merecia um descanso, por um ano de trabalho e principalmente pelo trânsito infernal que enfrentara para descer a serra, vindo lá daquela cidade estranha onde ela morava. Canga, água e cadeira a tiracolo, o mar à espera... uhu. Daí ela não prestou atenção, várias vezes ela não prestou atenção e escorregou no limo próximo a um bueiro. Por pouco não vai boca de bueiro abaixo. Deu com as duas canelas contra o concreto, uma dor infernal, viu passarinhos, estrelinhas e sentiu uma maresia. Até que um iluminado apareceu com o gelo. E ficou ela ali, no meio da rua, frente para o bueiro, fazendo compressa de gelo nas duas canelas, com vista para o mar.

Decidiu tirar uma soneca, o sono dos justos ao anoitecer, antes de encarar a estrada da volta. Começou a sentir uns calafrios, um mal-estar geral. Rumou para o banheiro e viu o camarão com queijo sair como entrou, pela boca e sólido. “Um banho vai resolver isso”, pensou ingenuamente. Banho, novamente cama e mais calafrios. Nada parava naquele estômago, nem água, nem soro caseiro. Mas tinha de pegar a estrada, afinal. O motorista a apressava. Pensou seriamente em desistir, ligar para o trabalho cancelando tudo. Mas quem ia acreditar? Volta de feriado, “isso é golpe para emendar”, diriam as más-línguas. Achou melhor ir.

Uns 200 metros e a primeira parada. Soro. Tomou um remedinho contra enjôo, que dava um sono...estava quase sonhando. Nova parada. Água. E foram assim 200 quilômetros, um saco plástico e um ar fétido no veículo. Estrada sem acostamento, sabe como é. Quando acordava do seu delírio, tinha a sensação de estar parada no mesmo lugar. E estava. Luzinhas, carrinhos quebrados, triângulos, luzinhas. Cinco horas pagando os pecados por ter experimentado um milho cozido e ter ficado muito tempo exposta ao sol. “Nunca mais vender cangas na praia para pagar casa alugada”.