calles porteñas
"O taxista, creio que meio borracho, disse-me: esse cara gosta de você. Como ele pode saber? Ele ficou te esperando na chuva. Nada é bem assim o que parece, meu senhor. E a crise, como vai? É meu último dia aqui, talvez nunca mais te veja e vou levando comigo o teu gosto, o teu sotaque rápido, um comentário sobre Kant.
O mesmo amor, a mesma chuva. Um reencontro
Depois do tango trágico, no bar eu já desistira de ti. Na hora de pedir a conta, eis que tu entras de bermudas e chinelos, paga a minha parte. Em segundos estávamos sós. E eu egocêntrica falava me gusta eso y aquello. E tu: me gusta vos.
Saímos pelas ruas a esmo, na chuva fina. Terminamos escrevendo em um espelho embaçado a revolução latino-americana, falamos de filosofia, da estupidez do mundo, de como a Europa é o velho mundo. Conhecíamos-nos há anos. E sobre cinema, claro. E eu sobre quadrinhos, gírias, rap. Sobre angústia e medo. E sonhos. Aprender a amar em espanhol.
Não achei que responderias minha mensagem e minha vida estava medíocre como sempre. Por isso tampouco me importava. E a cada nova palavra, difícil escrever na tua língua, ia sentindo mais como você. E desejando sair daqui, pegar o próximo vôo. E então vem esse eu te amo e não sei o que fazer, estou esperando a resposta."
Da lagarta na perna, Última noite em Buenos Aires
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